domingo, 3 de agosto de 2025

A primeira aparição do Capitão Átomo!

 


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Hora de comemorar outro aniversário no HQ Vintage! Em 2025, o Capitão Átomo, um dos mais conhecidos super-heróis da extinta Charlton Comics está comemorando 65 anos... Então eis aqui a edição NA ÍNTEGRA da sua primeira aparição!

Pra vocês terem uma ideia da importância dessa hq, vamos situar o leitor no contexto histórico: estávamos no começo de 1960... A Marvel Comics ainda não se chamava assim, nem mesmo haviam lançado ainda o Quarteto Fantástico e outros de seus famosos super-heróis! Mas a DC já havia dado início a ERA DE PRATA, com o relançamento do Flash e do Lanterna Verde, e apresentando também novos heróis como Desafiadores do Desconhecido, Adam Strange, Rip Hunter, Caçador de Marte e etc. Superman e Mulher-Maravilha haviam sido reformulados. Super-Heróis estavam voltando a moda após um período em que a geração anterior havia preferido quadrinhos de faroeste e terror... 

A Charlton, assim como a Marvel, era uma editora que seguia tendências, e viu esse bonde andando. E resolveu tentar também. Eles já haviam lançado super-heróis na Era de Ouro dos quadrinhos - inclusive o primeiro deles se chamava "Yellow Jacket", isso mesmo, Jaqueta Amarela. Mas quando quadrinhos de super-herói deixaram de vender no final dos anos 40 eles foram abandonando o gênero. Mas agora a tendência tinha voltado. Então o editor Pat Massuli pediu ao roteirista principal da casa, JOE GILL (que escreveu todas as histórias desta edição) para inventar um novo herói.

Ora, acontecia a ERA ATÔMICA. Toda hora na televisão se falava de novos testes nucleares. Os efeitos da radiação eram desconhecidos, e geravam cada vez mais histórias de ficção científica, principalmente no cinema. Gill achou que um herói "atômico", de origem igualmente atômica, poderia ser um conceito que a garotada abraçasse. Assim surgiu o CAPITÃO ÁTOMO. 

E quem foi seu desenhista, o co-criador que elaborou seu visual? É um nome que você conhece... STEVE DITKO! Isso mesmo, dois anos antes de co-criar o Homem-Aranha, Ditko já estava fazendo história nas histórias em quadrinhos, co-criando seu primeiro super-herói! Seu design de página e escolhas de foco narrativo nessa história, aliás, foi algo que me chamaram a atenção e um dos motivos porque queria lhes apresentar essa revista. Ditko estava a frente de seu tempo, e não é a toa que tantos autores prestigiados (como Alan Moore) pagaram pau pro cara. É só comparar a história de Dikto com as outras duas da revista (desenhadas por Bill Montes e Bill Molno) que se vê que no staff de autores menores que trabalhava pra Charlton, Ditko se destacava. 

A Charlton era conhecida por ser uma editora de "baixa qualidade", principalmente no sentido que imprimia suas revistas em papel barato e péssima impressão. Uma das mostras da falta de cuidado editorial você já vê nessa edição, onde embora na capa o Capitão Átomo apareça com seu primeiro uniforme amarelo, no interior da história o uniforme foi colorido de azul! Ou o colorista não havia recebido as instruções corretas, ou o editor ainda não havia se decidido sobre o visual do personagem - mas a partir da edição 34 de "Space Adventures" na sua primeira fase, o Capitão Átomo vestiria esse uniforme amarelo da capa mesmo. 

Assim como se tornou padrão na Marvel depois (com Thor em Journey into Mystery e Homem de Ferro em Tales of Suspense), a Charlton também usou suas revistas de ficção científica pra lançar seus super-heróis, aqui no caso a mencionada SPACE ADVENTURES, uma das dezenas de titulos do gênero que existia na época, que vinha na onda da popularidade de filmes B de ficção científica, na segunda metade dos anos 50. 

Naquela altura do campeonato, a Charlton ironicamene era maior que a editora onde trabalhava Stan Lee, que em 1957 havia sofrido um processo de falência, e cortado todos os seus funcionários, com exceção de quatro. Stan tinha que trabalhar basicamente só com free-lancers. A Charlton havia conseguido passar pelo "furacão" da perseguição contra os quadrinhos, muito porque muita da grana vinha de revistas de música (principalmente cifras para violão e piano), que eram o verdadeiro ganha pão da editora (a Charlton era a principal editora de revistas de cifras para música nos EUA). Quadrinhos era apenas uma subdivisão. Também dizem as más línguas que na verdade a Charlton era uma operação de lavagem de dinheiro. A editora era de propriedade de italianos, e pelo menos um deles tinha ligação com a máfia. Essa denúncia só foi estourar nos anos 70, e a editora acabou falindo nos anos 80, com sua reputação manchada - embora as investigações não tenham dado em nada. 

Apesar da qualidade editorial questionável, a Charlton acabou desempenhando papel importante no mercado de quadrinhos americanos. Muitos dos nossos autores preferidos começaram suas carreiras na Charlton, onde receberam sua primeira chance de aparecer - é o caso não só de Ditko, mas de JOHN BYRNE, por exemplo. Por ser uma editora que pagava menos, a Charlton acabava contratando muitos novatos. E alguns deles de fato brilhariam. 

No entanto, o maior legado da Charlton são mesmo seus super-heróis, embora talvez eles não sejam de fato tão conhecidos, seus derivados foram. Quando a DC, nos anos 80, comprou os super-heróis da Charlton, Alan Moore foi incubido de bolar uma história usando eles. Essa história seria WATCHMEN... Mas como o que Moore queria fazer era algo tão drástico que os tornaria inutilizáveis no longo prazo, os editores pediram que Moore os substituísse por análogos. E é por isso que o Capitão Átomo virou o Dr. Manhattan. Repare nessa revista como Moore se inspirou na história do Capitão Átomo original para criar o seu herói derivado  - e as diferenças com a origem pós-crise do novo Capitão Átomo apresentado pela DC. Repare que originalmente o General Eiling - chamado aqui de "Eining" era um aliado e amigo do Capitão!

Aliás, todo gibi ecoa muita propaganda militar pró-EUA e da guerra fria ideológica que ocorria na época. Não apenas o Capitão Átomo que já surge como um herói literalmente a serviço das forças armadas (ao contrário da "iniciativa particular" dos super-heróis tradicionais), como na primeira história "Flagelo Galáctico" as "forças espaciais da ONU" afirmam que sua função é "varrer o mal do universo", encarnando o espírito intervencionista dos EUA em outros países na época; bem como enfrenta outra potência pela disputa de um planeta a ser colonizado no universo na terceira e última história "O Planeta Cativo". 

Fazer esse gibi deu um trabalho danado, devido a não termos disponível uma reconstrução de arte feita pela própria editora - e uma das razões porque tenho adiado fazer essa revista por tantos anos, esperando por scans de melhor qualidade. Mas não queria deixar mais esse aniversário redondo passar batido, então com a ajuda da Dashiro (do Dashiro Scans, colaboradora da Era Marvel) e do Scott Free, foi feito um trabalho de restauração, pra tornar a revista mais aprazível. Decidi incluir todas as páginas, até as propagandas, para que você tenha a noção exata do que era um gibi da Charlton, lançado em 1960, naquela época em que Era de Prata ainda apenas engatinhava. Uma verdadeira viagem no tempo...

Ah, e a propósito, todas as aventuras do Capitão Átomo original e dos demais super-heróis da Charlton se passam na TERRA 4, na continuidade pré-Crise. Bom divertimento. 

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