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O lançamento de hoje é especial porque vamos trazer algo bem raro nos scans em português... uma revista da CHARLTON! A Charton foi a editora de onde vieram o Capitão Átomo, o Besouro Azul, o Questão e o Pacificador, entre outros heróis, mais ou menos conhecidos, que foram adquiridos pela DC Comics em 1984. O que alguns de vocês talvez não saibam que nem todos os personagens da Charlton foram comprados pela DC, e destes o mais "famoso" lá nos EUA se trata de uma série "cult", ou seja, muito querida por um pequeno grupo de seguidores que garantiu sua sobrevida por anos. Este super-herói se chama E-MAN, e justamente agora em 2023 está completando 50 anos motivo que tínhamos que lançar sua primeira edição de estréia pelo menos até esse mês de outubro (data de capa da revista original).
E-MAN foi criado pelo escritor Nicola Cutti e o desenhista Joe Staton; Nicola foi um subestimado autor de histórias em quadrinhos, que também assinou sobre a alcunha de "Nick Cuti", e deve ser mais conhecido por algumas histórias publicadas aqui no Brasil na revista KRIPTA. Alguma coisa dele também devem ter saído na SPECTRO e nas revistinhas coloridas de terror da RGE, já que Cutti foi funcionário por alguns anos da Charlton e escreveu muito material para eles. Já Joe Staton os leitores devem lembrar dele das hqs do Lanterna Verde e da mini-série MILÊNIO, um dos mega-eventos da DC.
E-MAN conquistou um segmento fiel de leitores pelo bom-humor e carisma do casal protagonista das histórias, o herói "E-Man" (Homem de Energia) propriamente dito, e Nova Kane, que com o tempo ganharia poderes também. Em plena Era de Bronze onde a moda eram heróis angustiados e preocupados, as personalidades descontraídas de E-Man e Nova eram um diferencial em relação aos outros gibis. No entanto, a publicação inicialmente conheceu apenas 10 edições, já que a própria Charlton preferia publicar material licenciado de desenhos e séries de TV do que focar em propriedades próprias. Seus baixos salários também afastaram muitos bons autores, e quando Staton foi para a DC, perdendo seu co-criador, o gibi passou a republicar o que já tinha sido lançado (uma prática recorrente da Charlton). Mas as republicações ajudaram a manter viva a chama de ir encontrando novos leitores.
Em cada vez mais convenções de quadrinhos, os fãs traziam seus gibis do E-MAN para Joe Staton autografar, e ele queria retomar o personagem. Já que a Charlton não queria publicá-lo, ele convenceu a FIRST COMICS, editora onde assumiu a direção de arte, no começo dos anos 80 a comprar os direitos do E-MAN, com um acordo que o pagamento pela arte da nova revista seriam os royalties do personagem, dando assim sua posse futura para o próprio desenhista. E é por essa razão você não viu E-MAN como mais um super-herói da DC após Crise nas Infinitas Terras. Na First Comics, a revista do E-MAN evoluiu até mesmo para um tom de paródia às outras séries de super-herói (e isso antes mesmo das Tartarugas Ninjas e da Liga da Justiça de Giffen & Dematteis), e sem as amarras do comics code, pôde ousar mais ainda.
E-MAN foi precursor de muitas coisas: o ser de energia sensciente que se transforma em humano fará você lembrar da heroína HALO e do heroi ABERRAÇÃO CÓSMICA - mas E-MAN veio ANTES de ambos; Aliás note nessa história publicada em 1973, como a narrativa é enxuta e com pouco texto, lembrando mais um gibi dos anos 80 do que da década a que pertencia. Isso aconteceu porque Nicola Cutti antes de ser um escritor era também um desenhista; ele só não desenhou E-Man e outras séries da Charlton porque seu traço é mais cartunesco, da escola "underground" norte-americana, mas tinha uma enorme orientação ilustrativa para as histórias que escrevia, sabendo que não precisava por exemplo escrever coisas óbvias ou descrever o que já estava na imagem. Se ao ler esse quadrinho você não achar nada demais porque cresceu lendo histórias nesse formato, lembre que em 1973 a prática era bem diferente. Se você ver outros gibis daquele mesmo ano, vai ver o quanto E-Man nesse sentido era revolucionário - e não foi acaso o "culto" que a revista se tornou.
Nicola Cutti e Joe Staton disseram que a grande inspiração para a criação de E-Man foram as histórias originais do Homem-Borracha por seu criador Jack Cole. Naquela altura, nos anos 70, Homem-Borracha há alguns anos não estava mais nas bancas. Diante de tantos heróis angustiados e depressivos, eles queriam sair do melodrama típico da Marvel que havia levado a DC a ir pelo mesmo caminho, e apostar num herói que ao mesmo tempo era ingênuo e excêntrico. Sendo uma criatura cósmica, E-Man realmente não carrega nem maldade, nem cinismo. É uma "criança estelar". E era inevitável que a dançarina de boate Nova Kane, após conhecer tantos homens cínicos, mesquinhos e de segundas intenções, se encantasse com alguém realmente bom, que não poderia ser mesmo DESTE mundo. Nova Kane também se destaca pela personalidade companheira, simpática e amável se diferenciando totalmente da relação passiva-agressiva que muitas "namoradas" de super-heróis, de Lois Lane a Gwen Stacy, tinham com os super-heróis daquele tempo. Mais do que "namorada" de herói, o co-protagonismo dela se torna algo essencial para a série, levando ela a ser um personagem feminino pioneiro, numa época em que mulheres ainda tinham apenas papéis secundários nos quadrinhos. Um dos maiores elogios para os roteiros de Cutti era justamente a relação entre a dupla e os diálogos espirituosos entre os dois.
De fato, essa primeira história não é perfeita, mas devemos fazer uma concessão lembrando da época em que foi publicada, um tempo mais ingênuo dos quadrinhos. Também não era nada fácil criar toda uma história de origem e ainda confronto com um vilão em apenas 16 páginas, tendo assim que "pular" detalhes narrativos que podem parecer coincidências ou "conveniências" demais. Sobre os poucos problemas dela, eu prefiro comentar mais no nosso CHAT no TELEGRAM, pra não colocar spoilers aqui e estragar sua leitura.
Ah, sobre as 16 páginas, não se preocupe: o gibi não é só isso. Ele vinha com uma apresentação "back-up" de 8 páginas, uma surpreendente série chamada O CAVALO (The Knight) sobre uma organização chamada CHESS (Xadrez) que parece muito com... o CHEQUE-MATE, da DC Comics! Poisé, se trata de uma organização secreta que tem seus agentes denominados e com funções semelhantes a peças de xadrez. E isso foi publicado pelo menos 13 ou 14 anos antes que Paul Kupperberg levasse essa ideia para o Universo DC. O argumento dessa criação também é de Cutti (pra ver a potência criativa do homem), e os desenhos de TOM SUTTON, que você já deve conhecer da Marvel e da Warren (Creepie e Eerie).