A cada dia que passa, finalmente o Brasil parece que está descobrindo que os quadrinhos italianos não se resumem ao Tex. O primeiro gibi da Bonelli que eu realmente gostei, muitos anos atrás, é justamente de um personagem que mostra que a editora não se resume a faroeste: MARTIN MYSTERE!
Criado em 1982 pela imaginação e grande conhecimento cultural de Alfredo Castelli (uma espécie de Umberto Eco dos quadrinhos), a forma mais curta que posso encontrar para explicar o que é Martin Mystere é: "uma mistura de Indiana Jones com Arquivo X!" (fazendo notar que a série foi criada ANTES de Arquivo X).
As historias de Mystere se passam nos anos de 1980 (portanto se você é um nostálgico oitentista, é imperdível) e mostram as aventuras de um arqueólogo conhecido pela mídia como "detetive do impossível" porque se dedica a elucidar lendas como a existência da Atlântida, a origem de Stonehenge, a construção das pirâmides do Egito, as imagens gigantes no planalto de Nazca, o abominável Homem das Neves, o triângulo das Bermudas, a fonte da juventude, etc.
Como todo grande herói tem inimigos e parceiros a altura; do seu lado estão o assistente Java, um homem de neanderthal misteriosamente sobrevivente a extinção, e Diana, sua ex-secretária e noiva, responsável por trazer um pouco de organização a vida do mulherengo e sonhador Martin. Contra ele uma grande conspiração de "homens de preto" (muito antes do filme famoso dos anos de 1990!), determinados a destruir quaisquer provas que abalem a "história oficial do mundo". Uma conspiração digna de Arquivo X.
Martin Mystere é o tipo de coisa que se fosse bem adaptada (e nada tem a ver com o desenho animado infantil inspirado na hq que além de modificar bastante coisa também não traz nenhuma das tramas nem o tom da hq original, que é mesmo para um público mais maduro - além de mortes há algumas cenas de nudez, mas nada muito explícito) numa série modinha da netflix ou amazon prime você provavelmente estaria assistindo.
Martin Mystere já teve algumas publicações no Brasil; A editora Globo publicou 13 números que na verdade são o equivalente aos 12 originais italianos, e ainda assim, cortaram páginas das histórias! Veio a Record que publicava no formato original e sem cortes, reunindo sempre cada aventura numa única edição (mesmo que a aventura tivesse sido publicada na Italia em duas ou três edições, ou seja, a versão da Record era MELHOR que a italiana). O defeito era que publicavam fora de ordem, e embora não tenha uma continuidade tão amarrada quanto Marvel e DC, Martin Mystere tem sim alguma cronologia, em que acontecimentos passados tem consequencia, e personagens recorrentes que podem voltar (como o arqui-vilão Sergey Orloff). Veio a Mythos e continuou (continua) publicando fora de ordem.
Bom, aqui se você já é um leitor que conhece o Martin eis um presente: Todas as histórias serão lançadas na ordem original de publicação; Cada volume nosso trará uma aventura COMPLETA; e não podemos prometer quantas edições serão, mas as primeiras serão certamente em CORES, ou seja, essa versão nunca antes foi publicada no Brasil. Então aqui estão motivos não apenas para ler Martin Mystere mas também para reler os grandes enigmas do detetive do impossível!